Notícias Redação 11 de julho de 2011 (0) (151)

Recorde em Boston, com a ajuda do vento!

A Maratona de Boston sempre conta com muitos atletas rápidos, em função da excelente premiação que oferece, mas devido a seu percurso não plano (apesar da chegada ser em ponto mais baixo do que na largada) não se acreditava que um dia alguém correria lá em menos de 2h05. Já no ano passado houve a surpresa do recorde da prova ser batido com 2:05:52, enquanto o anterior era de 2:07:14, em 2006. Agora o queniano Geoffrey Mutay surpreendeu ainda mais ao finalizar em 2:03:02, seguido do compatriota Moses Mosop (2:03:06), do etíope Gebre Gebremanian (2:04:53) e do americano Ryan Hall, com o recorde de seu país: 2:04:58.

A temperatura ajudou, em torno dos 10 graus, e também um forte vento a favor, mas de qualquer forma ninguém esperava marcas tão sensacionais. Sem contar que, como sempre, a prova não ofereceu coelhos para ditar o ritmo na primeira metade ou mesmo até os 30 km, como fazem outras maratonas.

Como o desnível em Boston supera o máximo (42 m) permitido pela IAAF, desde a largada até a chegada, favorecendo os participantes, assim como a distância entre o início e o fim é maior que 21 km (possibilidade de ajuda do vento, como aliás aconteceu), as marcas na mais tradicional maratona do mundo não podem ser homologadas como recorde mundial pela entidade responsável pelo atletismo internacional, mas apenas como "melhor resultado do mundo".

No feminino uma grande disputa até o final, com as três primeiras chegando quase juntas, em esforço que levou a campeã ao chão, logo após cruzar a linha. Ficou assim o pódio: Caroline Kilei (Quênia) em 2:22:36, Desiree Davila (EUA) em 2:22:38 e Sharon Cherop (Quênia) com 2:22:42.

RESTRIÇÃO NA PISTA

A questão do vento a favor é igualmente verificada nas competições de pista, mais exatamente os 100 e 200 metros, o salto em distância e o salto triplo. Um equipamento medidor colocado ao lado da linha de chegada avalia a velocidade do vento; se for a favor e passar de 2 metros por segundo, os resultados não são homologados, mas sem prejuízo para a classificação dos atletas.

Transformando esse limite para quilômetros por hora, daria 7,2 km/h como o máximo permitido. Só que não há essa restrição nas regras da IAAF, apenas a da "separação máxima" entre saída e chegada da corrida. Para se ter uma idéia de como os corredores devem ter sido beneficiados em Boston, a velocidade do vento ficou em torno de 20 km/h!!!

MEIA E MARATONA DO RIO TAMBÉM NÃO PODEM SER HOMOLOGADAS

 O sensacional resultado alcançado na Maratona de Boston chamou a atenção para um detalhe das provas de rua não muito conhecido, que é a questão da homologação dos resultados por parte da IAAF, a entidade que rege o atletismo internacional. Segundo as regras da IAAF, além da necessidade da aferição do percurso e outros aspectos de segurança, sinalização, controle de trânsito, atendimento médico etc, as provas de rua não podem ter desnível de mais de 1 metro por quilômetro, nem a distância (em linha reta) entre largada e chegada ser superior em mais de 50% o total do percurso da competição. Ou seja, são restrições referentes a provas cuja saída e ponto final não sejam coincidentes.

A primeira restrição é fácil de entender. No caso de Boston, por exemplo, a chegada está 137 metros abaixo do nível altimétrico da largada, quando o máximo seria 42 metros. Já a segunda envolve uma linha reta imaginária entre o começo e fim da prova, que não pode ter mais de 21,1 km para a maratona ou 10,5 km para a meia. E por que essa limitação? Exatamente para que não haja um eventual benefício de vento a favor, como aconteceu em Boston. Dessa forma, a centenária maratona americana está duplamente impossibilitada de ter seus resultados homologados pela IAAF, não valendo como recorde mundial, mas apenas como "melhor marca nos 42.195 metros".

Outro caso interessante é o da Meia de Lisboa, que tinha também o "problema" de desnível superior a 21 metros, em função da largada na alta ponte 25 de Abril, sobre o rio Tejo. A prova convidava excelentes atletas e aconteceu há alguns anos a melhor marca mundial, mas que não foi homologada. Então, os organizadores decidiram mudar o local de largada da elite, ficando o restante do percurso (com os amadores) igual. E no ano passado conseguiram o que almejavam há muito tempo: a quebra do recorde mundial, através do eritreu Zersenay Tadese, com o tempo de 58:23.

A possibilidade de marcas muito rápidas no Brasil são difíceis, pela questão do clima e também porque a premiação em dinheiro nunca está no mesmo nível do que se verifica nas principais provas do exterior, fator básico para atrair a presença de atletas da elite internacional, sem os quais é praticamente impossível a quebra de recordes. Por essas razões, não dá para sonhar com marcas mundiais nas corridas de rua no país, sendo que duas das nossas principais provas apresentam ainda o inconveniente de não poderem ter seus resultados homologados pela IAAF, no caso de um recorde mundial.

Estamos falando da Meia-Maratona do Rio, promovida pela Rede Globo, e da Maratona do Rio, organizada pela Spíridon. A razão, para os dois casos, é que a distância entre a largada e chegada (aquela linha reta imaginária) é superior a 50% do total do percurso, sendo, portanto, possível os atletas serem beneficiados por um vento a favor. Curiosamente, a Meia do Rio ultrapassa o limite por míseros 500 metros, conforme constatou o medidor oficial nível A Rodolfo Eichler, quando aferiu o percurso para o Mundial de Meia-Maratona, acontecido em 2008 junto com a prova carioca e cujos resultados não foram homologados pela IAAF.

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