Blog do Corredor André Savazoni 13 de fevereiro de 2012 (6) (178)

Só a corrida pode provocar encontros especiais como esse

Sempre tive a vida ligada ao esporte. Praticando e, mais velho, trabalhando. Influência dentro de casa, principalmente de meu pai, Jaime. Joguei anos de futebol de salão (na época em que a bola era pesada, gol não valia dentro da área), futebol de campo, vôlei (até o tamanho acabar com o sonho de um levantador mediano), natação, tênis… a corrida era o aquecimento. Profissionalmente, também, o esporte tornou-se um “ganha pão”. Comecei no jornalismo, em 1994, na área esportiva.

Mas em 99% dos esportes, não há contato com seus ídolos, com o pessoal da elite. Não dentro de uma competição normal. Cobria tênis, mas sabia que nunca iria enfrentar o Gustavo Kuerten. No futsal, não jogaria contra o Jackson ou o Douglas na década de 1980. No vôlei, não iria levantar a bola para o Renan ou o Montanaro… nem disputar 400m medley contra o Ricardo Prado (se bem que corria o risco de me afogar no nado borboleta, que nunca acertei!). Mas, na corrida, é diferente.

Como já escrevi aqui, a São Silvestre sempre fez parte de minha vida. Antes, criança, assistia à prova noturna, torcendo para acabar antes de ter de sair de casa para ver os fogos. Quando mudou para o período da tarde, podia acompanhá-la tranquilamente. Vibrava também com os estrangeiros, como a Rosa Motta e o Rolando Vera. Curtia quando um brasileiro quebrava a escrita, como o José João da Silva. Nem pensava em me tornar um corredor, mas tinha um sonho de vida: correr uma São Silvestre.

Admirava demais o Paul Tergat. Aquele queniano alto, simpático, que parecia invencível. Nem parecia fazer esforço para vencer prova após prova. Em 1997, vibrei como um gol em final de Copa do Mundo quando o paranaense Emerson Iserbem entrou para a história da Corrida Internacional de São Silvestre ao superar Tergat na subida da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Único brasileiro a derrotar o queniano no auge da carreira.

Neste ano, entrevistamos Iserbem para o CRnoAr para falar de sua carreira e da vitória na São Silvestre. E ele contou que estava voltando a correr, a treinar, sendo motivado principalmente pelo Desafio CR Sub 40 nos 10 km. Que alunos seus, na região de Tremembé-SP, também estavam preparando-se para quebrar as duas marcas, incluindo o sub 50. Continuamos as conversas pelo Facebook e, sábado passado, nos encontramos por volta do km 8 na Volta de Itu.

Ele me passou, vi quem era, acelerei, me apresentei rapidamente e segui correndo. Um pouco mais adiante, Iserbem me alcançou, estendeu a mão e seguimos juntos, lado a lado, por mais um quilômetro e pouco. No final, faltando uns 500m, ele acelerou e chegou na frente. Ao cruzar a linha de chegada, ele estava lá, me esperando e batemos um longo papo sobre corridas, metas, desafios, passado, cross-country, futuro. Uma emoção única. Em que esporte você pode competir, nem que seja por um quilômetro, ao lado de um ídolo? Só a corrida pode provocar encontros como esse.

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6 Comments on “Só a corrida pode provocar encontros especiais como esse

  1. É bem legal mesmo, mas não é exclusividade das corridas de rua. Pelo menos mais dois esportes permitem sensações parecidas: as maratonas aquáticas (travessias em aguas abertas) e o triathlon.

    Eu já tive a honra de ser atropelado (literalmente, passaram por cima) pela Ana Marcela Cunha e pela Poliana Okimoto em uma travessia em Porto Belo.

    E ontem mesmo um amigo estava me falando da emoção de pedalar ao lado do Lance Armstrong no Ironman do Panamá. Segundo ele, não tem preço.

    —————————–

    Tem razão Luis, não é só a corrida, por isso que coloquei que em 99% dos esportes não ocorre. Boa lembrança do triatlo e da maratona aquática.

    Agora, quanto ao atropelamento, o que você estava fazendo na frente da Ana Marcela e da Poliana? Tinha de te atropelar mesmo!!!!

    Abraço
    André Savazoni

  2. Oi André,

    No meu caso, foi um encontro pós-chegada na Corrida Oral-B da Corpore. Terminei em 32’21” e estava lá retirando o chip para trocar pela medalha e quem parou para tirar o chip do meu lado? José João da Silva e seu casaco verde.
    Trocamos algumas palavras rápidas, ele me disse que estava “tirando pó”, já que na corrida da JJS de uns dias antes ele estava muito atarefado com a organização. Muito legal, muito simpático, correndo por prazer. Legal, não? Esse esporte te permite isso.
    Eu eu ainda posso dizer que cheguei na frente do José João uma vez na vida,rsrs ;-). Ele correndo na boa e eu começando a temporada para buscar o sub 40…
    Abraços e bons treinos!
    Alex.

  3. Nas travessias os homens largam antes (sim, existe “largada em ondas” e elas funcionam. Neste caso, como a travessia é no mar, nada mais apropriado.)

    Não foi a última vez que eu atrapalhei o bom desempenho de mulheres muito mais rápidas. Mas foram as mais famosas.

  4. É muito legal mesmo. Só a corrida de rua promove isto ai. Nos outros esportes, a coisa é tão esquisita, que quando o atleta, que é idolo ou herói de populares, aposenta, ele passa a participar de partidas de demonstração, com o público ainda apenas aplaudindo. Abcs.

  5. Já encontrei bastante gente famosa ou conhecida em diversas corridas. Mas gosto mesmo é de me encontrar pessoalmente com quem eu converso só virtualmente. Foi o que houve nesse sábado em Itu, quando conversei (rapidamente) com você, André. Fica para a próxima um papo mais lento e uma corrida mais rápida, rs. Abraços.

  6. A diferença é que o corredor não é estrela, no sentido ruim da palavra. São pessoas humildes, que às vezes até se espantam com o reconhecimento. Por isso esses encontros são sempre tão legais e autênticos. Lembro de uma corrida Sargento Gonzaguinha na zona norte de São Paulo, uns 8,10 anos atrás. Final de prova, eu andando de volta para o metrô e quem passa ao meu lado na rua? Marilson Gomes, vencedor da prova, caminhando de mão dada com a esposa, na outra o troféu. Parou ao chegar no carro. Nada de luxo, um Uninho bem simples. Andava sossegado, cabeça baixa, na maior humildade, como se não fosse esse gigante das corridas. Anos depois na saudosa Nike 10k tive a incrível felicidade de chegar 2 ou 3 segundos na frente de meu super ídolo nas corridas: Joaquim Cruz(claro, ele não correu a sério). Minha única reação foi esperá-lo, estender a mão e perguntar se podia cumprimentá-lo…Surpreso, ele sorriu, meio sem saber o que dizer, e retribuiu o gesto ali, logo depois da chegada.

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