Corri Curitiba no dia 21 de novembro, encerrando o "Desafio das 6 Maratonas", com meu recorde pessoal, 3:47:37, e o melhor, cheguei inteira, apesar de cansada. Dois dias depois embarquei para a Austrália, fazendo outra maratona, de 31 horas, na rota Curitiba-São Paulo-Buenos Aires-Nova Zelândia e finalmente Sydney.
Com um fuso de 13 horas para mais, cheguei na manhã de quinta-feira, onde meu filho Bruno me esperava. Ainda no Brasil, pedi que me inscrevesse em uma corrida durante o período que eu passaria na cidade, de 23 de novembro a 6 de janeiro, e a única prova que ele encontrou foi… uma maratona nas montanhas!
Mas, como toda corredora que gosta de verdade do esporte, logo quis saber onde seria a prova no domingo, já pensando em descansar bem até lá. Aí meu filho me informou que aconteceria no sábado e então bateu certo medo. As pernas ainda estavam doloridas de Curitiba, a longa viagem sempre desconfortável, as poucas horas de sono, o jetlag e a diferença de horários, tudo jogava contra.
Levei comigo as últimas edições da Contra-Relógio e aproveitei para reler a matéria "Um desafio de 100 km nas montanhas da Austrália", publicada em julho de 2010, acontecido no mesmo local em que correria (www.runningwildnsw.com), o que me ajudou a ter uma noção do que seria a prova, guardadas as devidas proporções, é claro.
Na véspera, fui deitar bem cedo, pois, no dia seguinte, acordaríamos às 4 da manhã e seguiríamos de carro em direção ao Blue Mountains National Park, em Glenbrook, distante 1h30 de Sydney.
O parque abriu pontualmente às 7 e começou a movimentação dos corredores. Logo algumas surpresas. Não havia chip, somente um número de peito; os pontos de abastecimento seriam poucos e cada corredor tinha que levar seu cantil. Nos alinhamos para a largada e o organizador fez os avisos finais, pois, seriam três provas: uma de 24 km, outra de 34 km e a maratona, sendo necessário chegar nos 24 km com 3h30, ou se estaria fora da maratona.
MUITAS TRILHAS E MACHUCADOS. Dada a largada, seguimos por uma trilha, onde só passava um corredor por vez e que ia subindo, subindo, subindo, cheia de pedras e despenhadeiros. Era preciso muito cuidado, porque os tombos e ralados nos joelhos aconteciam a toda hora. A marcação das trilhas, feita por uma fitinha cor de rosa, na pressa mal conseguimos enxergar, mas o meu medo de me perder na montanha era tão grande que tentava me manter atenta a todos os sinais.
A preocupação com a natureza é uma característica forte dos australianos, assim, mal conseguimos ver a trilha, era literalmente desbravar. Então, lá fui eu, que apenas arranho o inglês, com um bando de corredores que aparentemente só fazem esse tipo de corrida, e iam levando no peito os matos e garranchos da trilha; aliás, eles correm com tantos acessórios, que nem imagino onde usarão tantas coisas.
Enfim, fui vencendo o cansaço e o medo, até que saí numa estrada e na curva do caminho encontrei os voluntários, com água, Pepsi, banana, laranja e um isotônico. Me abasteci de tudo um pouco e continuei. No que parecia ser o último posto, aproveitei para encher minha garrafinha de água e perguntar quantos quilômetros faltavam, porque não havia marcação. Fiquei sabendo que restavam 7 km.
Finalmente a linha de chegada e lá estava meu filho com a máquina fotográfica. A única coisa que me lembro é de abrir os braços para ele e literalmente me pendurar em seu pescoço de tão cansada.
Me recupero, e meu filho me chama atenção para um detalhe: não há medalha, nem camiseta, nem kit. Fico meio decepcionada e digo que o pessoal ainda reclama das corridas no Brasil. Também não há ambulância, e o fotógrafo da prova faz papel de médico, aplicando curativo nos corredores que se machucaram nos tombos. É literalmente rústica, mas muito empolgante. Quem faz uma prova dessas é movido simplesmente pela paixão e emoção da chegada. Adorei ter participado; é esse tipo de prova que gosto e que mais me emociona. Valeu!
* MARILZA CÂNDIDA SALDANHA é advogada e assinante de São José do Rio Preto, SP.