Quando decidi viajar para Nova York, meu plano era passear e aproveitar a cidade com meu marido. Entretanto, ao conversar com amigos, descobri que haveria uma corrida no final de semana em que estaria lá, dia 19 de dezembro, na distância de 15 km: a Ted Corbitt 15k, prova organizada pelo New York Road Runners, os mesmos da Maratona de Nova York. Ela se encaixaria perfeitamente na minha planilha de treinos, que terminaria o ano com a São Silvestre de 2010 e começaria 2011 com uma meia maratona em março. Fiz então a inscrição, com grande antecipação, em fevereiro de 2010.
Chegando mais perto da viagem, comecei a me dar conta de algo que não tinha pensado ainda: o frio. De certo, eu sairia de São Paulo um final de semana depois da fatídica e dificílima Volta da Pampulha, aos 35ºC, para correr em Nova York, com uma previsão de -9ºC. Nunca havia ao menos chegado perto de encarar tamanho frio e não tinha noção de quais equipamentos usar, o que fazer. Pesquisei um pouco e uma amiga falou: "Não coloque muito mais coisas do que você usa para correr aqui no inverno, por causa da transpiração. Fale para seu marido ficar lhe esperando com um casacão na chegada, porque só depois de parar é que a coisa complica. Vai dar certo!". Seguindo os conselhos dela, decidi levar uma calça térmica, uma blusa de malha de capuz, uma outra termo-fit e meias normais, tudo que sempre uso aqui quando faz muito frio.
Quando cheguei em Nova York, quase desisti de correr. O frio era demais, o vento piorava a sensação térmica e a previsão dizia que nevaria no domingo. Foi aí que ter chegado alguns dias antes fez toda a diferença. Conhecendo a cidade e andando para cima e para baixo, comecei a me acostumar com o frio. No sábado já tinha certeza de que iria correr sem problemas.
Retirei o kit na sede da New York Road Runners, perto do Central Park, na quinta. A organização é impecável, mas confesso que fiquei um pouco decepcionada com o kit com apenas o número de peito com o chip descartável colado e uma camiseta manga longa de malha. Por outro lado, foi emocionante ver ali fotos e produtos relacionados à famosíssima Maratona de Nova York.
No domingo, acordei às 6h. Estava realmente muito frio. Coloquei a roupa que levei, um gorro e luvas de corrida que comprei lá e um casaco que me protegesse da neve prevista. Saí na rua e quase voltei atrás, mas depois, ao entrar no metrô, vi um monte de corredores. Animei-me e bateu aquele sentimento bom pré-prova.
A largada foi às 8h em ponto. Tinha muito mais gente do que eu esperava. Por incrível que pareça, algumas pessoas correndo de shorts e até sem camisa (loucos), mas a grande maioria bem agasalhada. Comecei a correr tranquila, mas um pouco travada por causa da baixa temperatura. Lá pelo terceiro quilômetro senti que estava bem e comecei a me soltar, acelerar. Vieram algumas subidas, poucas descidas e a vista do Central Park com cara de inverno, parte do lago central congelado… esplêndido!
A hidratação era feita com copos de água de papel sem tampa. Na primeira vez tentei tomar água e correr ao mesmo tempo, mas a água ia caindo na roupa e nas luvas, que molhadas ficavam nada confortáveis. Por isso, nos outros pontos decidi acompanhar os demais: parava, tomava água e só então continuava. Uma coisa ruim de correr no frio é a transpiração; quanto mais eu transpirava, mais sentia o efeito do vento batendo e, mesmo correndo, comecei a sentir frios localizados (principalmente no peito).
Terminei com um tempo melhor do que esperava e a alegria só não foi maior na chegada porque cruzei a linha e… nada de medalha. Apenas um copo de água, um de isotônico e um biscoito. Mas tudo bem, valeu pela experiência, pela excelente organização e pela emoção de correr em uma das cidades mais bonitas do mundo!
Quando cheguei ao hotel soube que a temperatura média da prova foi de apenas -5ºC. E não caiu um floco de neve. Ainda bem!
* Flávia Kawazoe Cabral mora em São Paulo.