E para justificar e confirmar essa suposição, por vezes se recorre a uma comparação entre o número de inscritos e o total de concluintes, que revelaria a alta taxa de desistência e, portanto, a grande dificuldade das maratonas. O problema (e que fura completamente esse raciocínio) é que os dados de inscrição nunca revelam a verdade, pelo menos no Brasil, sendo tradição se aumentar o número dos que estariam participando do evento. Aí, ao se comparar com os que efetivamente terminam, chega-se à (equivocada) conclusão, que centenas ou milhares ficaram pelo percurso. O tal "fato" confirmaria a tese de que terminar uma maratona não é para qualquer um, uma vez que essa prova é de extrema dureza etc.
Considerando-se os milhares de corredores fazendo maratonas pelo mundo, em números que não param de crescer, fica difícil concordar com essa idéia. E o mais revelador é quando se parte de dados reais, não de inscritos, mas de quantos efetivamente fazem a largada, informação hoje absolutamente acessível e banal, uma vez que os corredores usam chip e passam pelo tapete de controle na saída, o que se constata é bem diferente.
Apenas como referência, na última Maratona de Nova York, que teve recorde mundial de participantes, dos 43.741 que cruzaram a largada, 43.475 terminaram, ou seja, menos de 1% ficou pelo caminho. É verdade que a prova americana não tem tempo-limite, mas quando se considera que a maioria das maratonas pelo mundo espera por até 6 horas para desmontar o pórtico de chegada, é um tempo para lá de suficiente para fechar os 42 km, em ritmo confortável, alternando trote e caminhada.
SEM PRESSA, EM MENOS DE 6 HORAS. Aliás, completar maratona acima de 5 horas é algo absolutamente viável para toda pessoa sem problemas físicos nem obeso, requerendo um treinamento qualquer, uma vez que significará fazer parte da prova correndo devagar e outro tanto caminhando. Nesse sentido, não é demais lembrar que alguém que cumpra a primeira metade da maratona no ritmo confortável de 7 minutos por km (trote), passará a meia em pouco menos de 2h30; depois pode caminhar em toda a segunda metade (10 min/km) que terminará os 42 km antes do relógio fechar 6 horas.
Mesmo aqueles que desistem durante uma maratona o fazem geralmente apenas porque não têm paciência para ir caminhando no trecho final, após "quebrarem", uma vez que consideram que maratona é para ser feita correndo e não se arrastando. O mesmo vale para a elite, o que nem sempre é compreendido por alguns corredores, ao saberem que determinado atleta abandonou durante uma maratona. Os profissionais não estão lá com o objetivo de completar os 42 km, mas para obter resultados (e prêmios), não tendo qualquer sentido seguirem até o final, quando já não conseguem imprimir o ritmo que esperavam, sendo obrigados apenas a trotar.
Para os amadores, ser forçado a caminhar durante uma maratona, devido ao cansaço, tem o mesmo sentido, só que cada um encara essa situação de uma forma. Para alguns é o fim (não por acaso, quando se começa a caminhar é comum a platéia falar "não pára!" porque consideram caminhar uma desistência), mas outros seguem andando, sem se incomodar, e vão até o final.
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Essa é a opinião mais realista sobre maratonas que li até hoje,esse artigo deveria vir no kit de todas as provas,certamente aumentaria e muito o número de maratonistas no Brasil.