Blog do Corredor Especial Redação 7 de dezembro de 2010 (1) (142)

Padre corredor sonha com a São Silvestre

Com semblante tranquilo, Norberto Savietto, de 54 anos, recebe três mães com seus filhos. Esse é o ritual das tardes de terça-feira no salão anexo à igreja em ampliação, quando separa algumas horas para conversar com membros da comunidade do Varjão, bairro na periferia de Jundiaí-SP. Padre Norberto, como é conhecido, responde hoje pela Paróquia Nossa Senhora Aparecida. Mas a conversa com a reportagem da Contra-Relógio não tem relação com batismo ou pedidos de orientação religiosa e espiritual: há seis anos, padre Norberto é um apaixonado pelas corridas. "Sempre joguei futebol; a vida toda. Um dia, comecei a fazer caminhadas, mas por incentivo de alguns amigos, que corriam, peguei gosto pela atividade", lembra.

A iniciação esportiva ocorreu quando trabalhava em outra comunidade, na Paróquia de São Pedro Apóstolo, na Vila Comercial, bairro localizado às margens da Via Anhanguera, também em Jundiaí. Mas a corrida ainda não tinha entrado em sua vida. "A igreja tinha ginástica para mulheres. Daí, chegou um professor. Depois de algum tempo, as pessoas passaram a correr também", diz.

Padre Norberto foi ordenado no dia 5 de janeiro de 1986. Em janeiro próximo, haverá festa na comunidade do Varjão pelo Jubileu de Prata, 25 anos de sacerdócio. Mas o religioso pretende antecipar um pouco essa data e tem planos para uma comemoração solitária. Ou melhor, "quase" solitária. Ao lado de mais umas 20 mil pessoas, percorrendo pela primeira vez os 15 km na 86ª Corrida Internacional de São Silvestre, no dia 31 de dezembro. "Quero concluir o percurso, ter um objetivo, mesmo não sendo atleta", explica. Ele sabe que, às vezes, por obrigações com a Igreja, não consegue ir às provas. A religião está em primeiro lugar. "Vou me inscrever, daí, vejo se consigo correr. Mas é um sonho."

 

PRIMEIRO O TRABALHO. Essas obrigações religiosas, inclusive, evitaram que padre Norberto disputasse mais uma etapa da Corrida Unimed, em Jundiaí, em maio deste ano. "Estava bem, tinha treinado e iria baixar o tempo", acredita o religioso, que completou os 10 km da prova jundiaiense em 47:59 em 2009, terminando em 369º lugar no geral e 34º na faixa etária 50-54 anos. Mas um padre havia morrido e ele foi rezar no velório, perdendo a largada da prova. "O trabalho em primeiro lugar."

Padre Norberto não pode disputar muitas provas por um motivo básico: a maioria é realizada aos domingos pela manhã, no dia e horário de uma das missas católicas mais importantes da semana. Assim, consegue correr quando há eventos com datas alternativas, como a prova de Jundiaí, realizada sempre no dia 1º de maio. Mas em 2011, será no domingo… Já competiu também em Cajamar, na Grande São Paulo.

Atualmente, padre Norberto treina sozinho, pelo menos duas vezes por semana, sem horário fixo, e joga futebol num terceiro dia. Com o início do horário de verão, diz que ficará mais fácil para correr nos finais da tarde. Ele sabe que, para ir aumentando as distâncias, como os 15 km da São Silvestre, precisará ir a uma academia e fazer um pouco de musculação. "Estou adiando, mas vou começar. É importante", diz.

Pretende, também, buscar uma ajuda profissional para melhorar o desempenho nas provas. Na conversa com a Contra-Relógio, pergunta em quanto tempo pode concluir a tradicional prova paulistana. Respondo que, devido ao volume de gente na largada da São Silvestre, e pelo ritmo dele nos 10 km, em cerca de 1h20, 1h25. O que seria excelente. "Tudo isso? Queria fazer em menos", comenta.

Durante os treinamentos, sempre que precisa, busca informações com os amigos da Vila Comercial. Aqueles que o ajudaram a dar os primeiros passos na corrida. "Troco uma idéia, me ensinam a fazer um alongamento, dão dicas de preparação", explica. "Há pessoas com mais de 60 anos correndo, conquistando troféus em suas categorias. Busco um pouco dessa experiência."

          

O EXEMPLO DA CORRIDA. Esses ensinamentos são passados para frente. Nas conversas com membros da comunidade em que atua, explica a importância da atividade física. "Seja novo, velho, gordo, magro. Tem de fazer um pouco de exercício. O esporte é um desafio e temos de enfrentá-lo", afirma. E padre Norberto faz uma analogia entre a corrida e a vida. "Temos de pensar positivo, para frente. Hoje, vou fazer uma subida. Vou correr mais um quilômetro. É o desafio que nos move."

Pelo seu ritmo de vida, padre Norberto está sempre em movimento. Tem de estar bem fisicamente. Não gosta de ficar parado na igreja. Procura, sempre, ir às casas, conversar com os membros da comunidade. "Objetivo da religião é o bem das pessoas por completo. Quem está passando necessidade, não pode estar bem espiritualmente. Tenho de ir ao encontro dessas pessoas, ficar por perto para poder ajudar", afirma. "É uma questão de vocação, meu dom é estar com o povo mais simples."

Natural de Jundiaí, padre Norberto só ficou fora da cidade durante os seis meses de catequese. Nesse período, passou por Belém, Manaus e Porto Velho. E, além de muito trabalho nos próximos meses, tem o desafio pessoal de, no final da tarde de 31 de dezembro, superar a temida subida da Avenida Brigadeiro Luís Antônio e chegar à Avenida Paulista, fechando mais um ano ao lado do também católico São Silvestre que, antes de ser canonizado, foi papa entre os anos 314 e 355. 

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