Blog do Corredor André Savazoni 16 de janeiro de 2012 (11) (143)

Oito segundos e a crueldade do relógio no esporte

O que representam oito segundos no esporte? No nosso caso, no atletismo e mais especificamente nas corridas? Em provas de velocidade, uma eternidade. Quase o tempo que Usain Bolt leva para percorrer 100 m. Nos 200 m, 400 m e até nos 1.500 m, oito segundos são demais. E na maratona? Em 42.195 m, perdemos oito segundos ao reduzir para tomar um copo de água, deixar o gel cair da mão, pegar tráfego numa curva e não tangenciar…. No caso dos profissionais, uma trombada, uma confusão no posto de abastecimento… Algo quase que insignificante. Quase.

Não use a palavra insignificante para o americano Dathan Ritzenhein, que bateu o recorde pessoal com 2:09:55 na seletiva dos EUA para a Olimpíada de Londres e por oito segundos está fora do time titular – o terceiro colocado, Abdi Abdirahman fez 2:09:47. Está certo que Ritz classificou-se como reserva, mas se ninguém se machucar, verá Londres 2012 fora das ruas…

Essa crueldade do relógio no esporte prega peças também em nós, simples amadores. Os oitos segundos tornam-se horas para quem se preparou durante meses, chegou na maratona e passou o tapete em 3:00:07. Um tempo fenomenal. Mas por “apenas” oito segundos, não foi sub 3h. E o 1:30:07 na meia-maratona ou 40:07 nos 10 km?

Muitas vezes, não percebemos, principalmente numa maratona, que vamos dar de cara na trave por oito segundos. É difícil raciocinar, fazer as contas necessárias após 40 quilômetros correndo, porque oito segundos são possíveis de tirar nos dois quilômetros finais… Confesso que muitas vezes fico olhando resultados de maratonas pelo mundo e me deparo com alguns 3:00:01, 3:00:02. Fico com pena e imaginando sem nem conhecer a pessoa… Vale o mesmo para os 21 km. Já nos 10 km, aí, a história complica-se um pouco mais… Qualquer segundo é suado demais!

Em outros momentos de uma corrida, mesmo você sabendo que falta pouquinho, a cabeça chega a mandar a ordem, mas as pernas resistem em responder. Lembrando outro caso recente histórico, o queniano Wilson Kipsang, em Frankfurt (Alemanha), que ficou a apenas quatro segundos do recorde mundial do compatriota Patrick Makau: 2:03:42 a 2:03:38. E olhe que apertou muito na reta final… se tivesse começado a acelerar um quilômetro antes…

Eu mesmo, na Meia-Maratona de Buenos Aires, em 2010, não tinha ainda sub 1h30 e por volta do km 15, achava que não conseguiria a marca. Cansado, acabei reduzindo um pouco para beber água e, depois, caminhei um pouquinho tomando o isotônico no último posto. Voltei ao ritmo, acelerei e acabei com 1:30:32. Tenho certeza que pedi 33 segundos nessas duas “bobeadas” na reta final, mas não consegui fazer a conta exata no momento…

Não temos como fugir. Profissional ou amador, em algum momento de nossa vida esportiva, seremos vítimas da crueldade do relógio.

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11 Comments on “Oito segundos e a crueldade do relógio no esporte

  1. Os segundos que sempre incomodam. Me aconteceu na Meia de Blumenau. Fiz meu recorde em 1:58:10, mas tenho certeza que esses 11 segundos pra fazer em 57 ficaram nos quilômetros finais quando me arrastei.

    No final, a gente sempre procura e acha onde ficaram os segundos, mas as provas são muito imprevisíveis. Alguma coisa vai ficar pra trás.

  2. Fiquei com pena do Dan porém ele ainda tem chances nos 5km e 10km e que pelo que pude acompanhar em alguns foruns gringos é a especialidade dele. A seletiva americana para a maratona é assim: cruel e justa ao mesmo tempo e com certeza amigo ela não tolera erros, muito menos erros de 8 segundos…

  3. Para mim, mero mortal, o importante é a diversão. Run and have fun, é um dos lemas de Barefoot Ken Bob Saxton. 8 segundos não fazem diferença nenhuma se você se divertiu.

  4. Se você deu o seu máximo é o que importa. Ganhar ou perder quem pode julgar? Para a seletiva a regra foi clara, podia ser 8 seg, ou na foto. Claro que existe a tristeza pois ele é profissional, agora para nós amadores creio que existe uma neurose aí. Antes de tudo existe a diversão como disse Adolfo, se ela falta, aí sim existe um problema bem maior que 8 seg rsrsrs

  5. Adolfo, Alex, concordo 100%!
    André, às vezes caminhar um pouco para se hidratar dá uma “aliviada” nas pernas e este tempo “perdido” é recuperado mais adiante pois não entramos em fadiga por repetição no fim da prova… é a estratégia run/walk/run do Jeff Galloway.

  6. Savazoni,

    Você produziu um belo texto, que aborda com muita propriedade a humana (ou desuma?) luta contra o relógio em busca dos líquidos segundos que nos levarão à glória ou à frustração. Já nos alertou o poeta: ” máquinas não sois, homens é o que sois”. Conduto, nós corredores, não desistimos, jamais, de, correndo contra o relógio, ilusória e momentaneamente podermos vencer, ainda que por míseros segundos, esse soberano e imbatível senhor chamado Tempo.

    Grande abraço,
    Tião Neto – Brasília (DF)

  7. Meu melhor tempo na meia é 1:29:04…. fiquei mais decepcionado pelos 04 segundos do que feliz por ser sub 1:30… corrida é assim mesmo, sempre queremos mais…
    abraço e parabéns pelo texto

  8. Pensei em diversas coisas a respeito, mas fico curioso de ver este post de novo no fim do ano, após o término dos Desafios sub-40, sub-50, meia e maratona.

  9. 1h50m01s na Meia de SBC, acho que em 2007… pensa que não tentei? Fui sprintar na retinha final depois do retorno (dá o que, 100, 150m, no máximo?) e deu cãimbra na batata da perna… sprintei assim mesmo, do jeito que dava, mancando, mas… 1h50m01s… foi meu melhor tempo na época, só que teve esse maldito segundo! Se tivesse sprintado com um pouquinho menos de vontade, quem sabe?

  10. André, passei por algo similar na minha estréia em maratonas, Buenos Aires, 10/10/2010. Treinei para completar a prova sem sofrimento e isso foi tranquilo. Ao passar o “muro” (para um estreante isso é uma verdadeira incógnita) do Km 32, percebi que dava até pra ser um Sub-4. Fui e… 4:00:47. Valeu pela experiência. Na 2a. tentativa, POA/11, 3:57.
    Este ano tô inscrito no Sub-3h50 da CR!

  11. Caro Andre,
    Tomei a liberdade de compartilhar sua crônica no Facebook há alguns dias e tive que ler ela novamente hoje.
    Por muita coincidência, os 8 segundos me perseguiram no sábado (28/01) quando, em dupla com um grande amigo, realizamos a Travessia Torres Tramandaí (TTT).
    Ao final dos trechos percorridos durante manhã, na classificação parcial, estávamos em sexto lugar, fora do pódium, por 8 segundos.
    Depois de muita luta, ao final da prova, subimos ao pódium para comemorar nosso quarto lugar, conquistado com 8 segundos de vantagem para o quinto colocado!
    No nosso mundo, cada segundo é suado. E cada segundo vale a pena!

    ———————————

    Que excelente, Jonathan. Parabéns pelo pódio.

    Esses segundos sempre nos perseguem.

    Ontem, em Mairiporã, não foram oito segundos, mas 35 que me levaram a perder o pódio e terminar em quarto lugar na faixa etária.

    Abraço
    André Savazoni

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