Começou a corrida em busca das melhores posições no ranking nacional de maratona, que definirá no dia 8 de maio os atletas que defenderão o Brasil no Mundial de Atletismo em Daegu, Coréia do Sul, e ainda os dois representantes nacionais nos Jogos Pan-Americanos de Guadajahara, no México, ambos em 2011. E a disputa nem bem começou e um nome e rosto não muito conhecido já saiu na frente. O catarinense Jean Carlos da Silva foi o 16º colocado na Maratona de Amsterdã, disputada no dia 17 de outubro, na Holanda, fechando a prova com o tempo de 2:15:24, segundo melhor tempo de um brasileiro em maratonas em 2010 (atrás apenas de Marilson, que fez 2:08:46 em Londres este ano) e resultado que o coloca em primeiro lugar do ranking válido para a disputa das duas competições, já que o índice, de 2:16:13, começou a valer a partir de 1º de setembro.
Apesar de pouco conhecido nas corridas de rua, o atleta catarinense, de 28 anos, carrega no currículo o título da Maratona de Blumenau de 2005, com o tempo de 2:19:18, até então seu melhor na distância. Embora hoje tenha seis maratonas na bagagem, a de Amsterdã com certeza teve um gostinho especial, já que, além de ter sido recorde pessoal, foi a primeira completada na fase atual de treino, visando a melhora nas distâncias mais curtas, para poder chegar a um tempo que o credencie a ser um dos cinco representes do Brasil no Mundial ou quem sabe um dos dois que correrão a maratona do Pan.
Segundo o técnico Ricardo D'Angelo, o trabalho com o atleta vem sendo realizado de forma progressiva e os resultados poderiam ter começado a aparecer já em 2008, quando Jean foi para Amsterdã com o objetivo de melhorar seu tempo nos 42 km. "Ele estava treinando bem e tinha conseguido baixar a marca dos 5000 m para 14:20 e dos 10.000 para 29:35. Só que ele acabou se machucando. Depois teve uma série de lesões e conseguiu voltar bem somente no início deste ano", diz "Bombeiro", como o treinador também é conhecido, que o convidou a treinar com a equipe da BM&F em 2006, na Maratona de Florianópolis.
COM NOVO TÉCNICO. "Eu treinava com o Sandro Nascimento, professor e técnico de Santa Catarina, mas contava com o auxílio do amigo e atleta Élson Gracioli, que na época era orientado pelo Ricardo. Ele me convidou para conhecer a filosofia da equipe e perguntou se eu gostaria de treinar com ele. Na mesma hora aceitei", lembra Jean, que sempre sonhou em se dedicar às maratonas, mas teve que alterar um pouco seus planos, recomeçando nas provas mais curtas, entre 1.500 m e 10.000 m, para conseguir melhorar suas marcas pessoais e só então buscar tempos também na maratona.
Para Jean, que é da cidade de Videira, SC, e hoje mora em Campinas, o início no esporte não muito diferente de como acontece para a maioria dos atletas. "Eu trabalhava como mecânico de manutenção e corria como amador, além de jogar futsal. Com o tempo, comecei a treinar mais seriamente e os resultados foram aparecendo nas competições regionais de Santa Catarina", lembra o atleta, que desistiu da carreira de mecânico porque queria ser atleta profissional. A primeira maratona veio logo aos 22 anos, com pouco tempo de treino. "Completei a em 2h26, em Florianópolis 2003."
Hoje com 10 minutos a menos no seu tempo da estréia em maratonas, o atleta mostra-se satisfeito com o resultado obtido em Amsterdã, apesar do pouco tempo de treino que teve para se preparar para a prova. "Passei por uma série de lesões em 2008 e 2009 e isso é complicado para o atleta, porque você perde um pouco o foco. Voltei a treinar somente em maio deste ano e em julho já estava competitivo, conseguindo treinar bem, sem sentir dores. Por isso, 2:15:24 foi um tempo satisfatoriamente bom para mim. Mas o melhor é que, apesar de ser a primeira completada com propósito de resultado, deu para ver perspectivas melhores. Tenho condições de treinar para um tempo entre 2h10 e 2h12, que é o objetivo para a próxima temporada", diz Jean, que considerou Amsterdã uma prova atípica, já que os pacers do pelotão onde se encontrava imprimiram um ritmo muito lento no início, o que fez com que ele, um marroquino e mais dois japoneses tivessem que tomar a atitude de apertar o passo. Embora o ritmo tenha sido lento no início, a passagem na meia foi 1:06:30, exatamente o pedido por seu técnico, que acreditava que o atleta pudesse já correr em Amsterdã entre 2h13 e 2h14. "Foi um ritmo tranquilo e com boa previsão de marca para mim. Mas senti dores no estômago depois do km 35. Mesmo assim, passei o km 40 em 2h08, o que daria uma previsão para 2h14, mas no final senti novamente dores e tive de diminuir o ritmo."
Conforme Ricardo D'Angelo, após o resultado na Holanda, o atleta segue treinando com o objetivo de melhorar sua marca na maratona. "Estamos prevendo uma prova entre fevereiro e abril de 2011, com o objetivo de confirmar o tempo no ranking e tentar também melhorar sua marca, o que lhe daria condições para disputar competições importantes no ano que vem", explica o técnico, mas lembra que a prioridade é por uma vaga no Pan. Para isso, teoricamente, ele teria que estar com o segundo melhor tempo do ranking, já que os mais bem qualificados terão a prioridade e o direito de escolher entre Jogos Pan-Americanos e o Mundial.
ETÍOPE BATE O RECORDE DO PERCURSO
O etíope Getu Feleke venceu a 36ª Maratona de Amsterdã, Holanda, no dia 17 de outubro, com o recorde de 2:05:44, 8º tempo mais rápido do mundo neste ano. Ele tinha como melhor marca pessoal 2:08:04 e por isso não estava entre os favoritos, mas no km 35 decidiu escapar do pelotão que liderava e ninguém o acompanhou. O 2º colocado foi um debutante na distância, o queniano Wilson Chebet que finalizou em 2:06:12. No feminino, a queniana Alice Timbili (vencedora da São Silvestre 2007) também só se isolou após o 33º km, para terminar em 2:25:03.
Destaque para os dois primeiros brasileiros na prova. Jean Carlos da Silva, 16º com o tempo de 2:15:24, e Michele Cristina das Chagas (campeã em Porto Alegre este ano) 10ª colocada com 2:39:41. Terminaram a maratona quase 8 mil corredores, entre eles vários brasileiros, mas a listagem disponibilizada no site da prova não permitia a seleção dos resultados por país, daí não estarmos publicando suas marcas.