20 de setembro de 2024

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Sem categoria admin 2 de novembro de 2015 (0) (70)

5 lições que corredores aprendem da pior maneira

Ao longo dos anos, além de medalhas e quilômetros que colecionam, os corredores de rua aprendem (e às vezes reaprendem) valiosas lições de funcionamento do próprio corpo. A maioria, inclusive, por cometer erros e saber fazer as coisas de forma diferente da próxima vez.
Eu, por exemplo, sei que nunca mais poderei passar longe das salas de musculação – quatro meses no "estaleiro" para tratar de uma condromalácia que me impedia de correr mais de 14 km sem dores garantiram que eu não cometa o erro de driblar as sessões de fortalecimento muscular duas ou três vezes na semana, dependendo da meta do momento.
Enquanto a maioria dos corredores aprende suas lições com a experiência, a CR oferece aqui alguns exemplos de quem cometeu erros e/ou passou por problemas comuns à prática desse esporte, para que nossos leitores possam evitar a maneira mais difícil. Aqui estão algumas histórias para ter em mente e evitar as consequências potencialmente dolorosas, ou constrangedoras, na sua longeva carreira na corrida de rua.

1 – Inventar na alimentação
Quem não fez, pelo menos uma vez, uma opção errada na alimentação pré-prova? Seja alguma coisa que ingeriu na noite anterior ou no café da manhã do grande dia. Dá para colecionar "momentos" que levam incontáveis desportistas a serem obrigados a pit stops inesperados.
Fernando Camarano aprendeu a respeitar a regra do "nada de novo" na alimentação pré-prova, quando sacrificou o sonhado sub-4h na sua primeira maratona, no ano passado, no Rio de Janeiro. O corredor mineiro, natural de BH, cometeu um pequeno deslize no jantar de confraternização, na véspera do grande dia. O que imaginava ser apenas feijão era, na verdade, feijoada. E das bem temperadas, pelo que pôde constatar momentos antes da largada.
"Meu intestino deu sinal de vida no aquecimento, mas achei que conseguiria 'despista-lo' até o fim da corrida. Ledo engano; não era uma corridinha de 10 km, que em pouco tempo estaria em casa, e também não era um simples desconforto intestinal. Tentei abstrair do problema apreciando a paisagem, conversando com outros corredores, mas não deu certo. Por volta do km18 fui obrigado a parar (e perder preciosos minutos) para resolver a séria questão."

2 – Não trocar os tênis
Quem sofre com dores nos pés ou nas articulações tem grande chance de já ter sido "premiado" com uma lesão. E os tênis gastos podem ser os culpados. Alguns corredores usam vários pares no seu dia-a-dia de treinos e acabam se perdendo na marcação da "quilometragem"; descobrem, por vezes, um pouco tarde, que já era hora de aposentá-los. Aqueles que aprendem essa lição nunca mais esperam muito tempo para substituir os tênis de corrida.
De acordo com estudo feito pela American College of Sports Medicine (ACSM), apesar de não haver um número certo, a maioria dos corredores precisa fazer essa troca a cada 500 km, em média. "O importante é perceber a intensidade de uso. Ver se a sola já está deformada e se tem rachaduras. Esses são sinais mais óbvios de que o tênis já não serve", ensina o ortopedista paulista Rodrigo Vicente, especialista em cirurgia de pé e tornozelo e pós-graduando em medicina esportiva. E ainda avisa: "Na hora da transição, cuidado com o tênis novo. Como todo relacionamento, no início ele não lhe conhece, nem você a ele. Por essa razão, aumente a quilometragem aos pouco, para evitar bolhas e outros desconfortos".

3 – Apenas correr
Alguns presumem que a única maneira de se tornar um corredor melhor é aumentando a quilometragem. Mas a verdade é que corredores precisam, de uma forma bem equilibrada, trabalhar a musculatura exigida no
esporte fazendo outras atividades. E devem cuidar do fortalecimento para reduzir o risco de lesões e melhorar o desempenho, lição que geralmente se aprende ao se sofrer as consequências.
O carioca Eduardo Pinto aprendeu essa lição da forma mais dura, literalmente. Mas pelo menos foi no início da "carreira" nas pistas. Há quatro anos, sedentário e com 120 kg, comprou uma esteira, que virou sua melhor companheira. Da caminhada passou logo para os trotes e, incentivado por amigos, fez inscrição para sua primeira corrida de rua.
"Treinei utilizando a esteira na inclinação máxima, o que fez minha panturrilha ficar dura igual uma rocha", lembra Eduardo, que já tem no "currículo" cinco maratonas e uma ultra. "No dia, simplesmente tudo travou. Mal conseguia andar; foi um sofrimento durante os meus primeiros 5 km, que nunca vou esquecer."

4 – Voltar de lesão cedo demais
Quando se está lidando com uma lesão, paciência é fundamental. Muitos ficam ansiosos para voltar a correr, e retornam aos treinos mais cedo do que deveriam. Ouvir seu médico ou fisioterapeuta é o melhor a fazer quando "zerar corrida" é parte do tratamento. Muitas vezes, pular etapas pode acabar levando você de volta para onde estava antes de começar sua reabilitação. Ou para um momento ainda pior.
Atuando na área há mais de 25 anos, o fisioterapeuta esportivo Fabio Marcelo acredita que quem trabalha lidando diretamente com atletas, sejam eles profissionais ou amadores, acaba desenvolvendo uma outra veia terapêutica. "Há todo um trabalho psicológico que, através de estímulos, não só ajuda a recuperar a força e a flexibilidade, mas também a blindar contra todo o sentimento ruim de passar por isso novamente."
Como os corredores apresentam lesões mais comumente nos membros inferiores, muitas vezes há necessidade de interromper a totalidade da atividade durante o tratamento, por causa do impacto, e isso é difícil para a maioria dos praticantes desse esporte. "Somos quase obrigados a liberar alguma atividade, como bicicleta ou natação, antes que possam retomar os treinos, para ajudá-los a lidar com a frustração de não poder correr temporariamente, e ajudá-los a voltar para o seu nível de condicionamento físico anterior", afirma Fabio Marcelo, que atende no Rio de Janeiro.

5 – Overtraining
Diferentemente da lesão aguda, que geralmente é causada por um único trauma de alta intensidade, a por sobrecarga é ocasionada pela enorme repetição de pequenas forças que vencem a capacidade de recuperação dos tecidos. Pior do que essa, só mesmo o overtraining. Definido como uma condição na qual o desportista apresenta baixo nível de desempenho, apesar do treinamento continuado ou até mesmo aumentado, o overtraining é o resultado de uma combinação perigosa de excesso de exercício com tempo insuficiente de
recuperação.
Afinal, quem nunca se entusiasmou com o próprio progresso na corrida, em algum momento, a ponto de querer dar um salto na quilometragem dos treinos? "Você começa a se sentir confiante e pensa: 'bem, eu fiz 16 km, por que não tentar 25?'. Tenho sido vítima de overtraining muitas vezes, porque tenho problemas em seguir planilhas para evitar me machucar de novo. O problema é que eu adoro correr!", diz a carioca Daniele Mendonça, que admite ter grande dificuldade de se adaptar à orientação de assessorias de corrida.
A fratura por estresse é um dos exemplos mais conhecidos nessa área. Mas há uma lista infinita: miosites, tendinites, rupturas parciais ou totais de tendões. Não à toa, muitos especialistas consideram o overtraining, por seu caráter silencioso e gravidade, como o "câncer" da prática esportiva. Maurício Garcia, coordenador do setor de Fisioterapia do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte, vai além e desfia um rosário de problemas clínicos que o overtraining pode gerar.
"Um indício prático de lesões musculares em atletas sob overtraining é a elevação das proteínas musculares no plasma, em geral, mioglobina, creatina cinase, lactato desidrogenase e fragmentos de miosina, que podem ser observados em testes laboratoriais. Há também o aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, queda do sistema imunológico, insônia e irritabilidade."

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