Dia 17 de março, em San Pedro de Atacama, no Chile, exatamente às 7h35, foi dada a largada para a 2ª edição do Mountain Do Deserto do Atacama, nas distâncias de 23 e 42 km. A largada dos 6 km aconteceu 5 minutos depois. O percurso da maratona, do qual eu participaria, havia sofrido algumas alterações devido a fenômenos climáticos (a que provas desse tipo estão sujeitas) e, com isso, estaria mais difícil, segundo a organização. Mas isso não mudaria muito o fato mais importante: a brincadeira se desenrolaria acima de 2.400 m de altitude!
No horário da largada, como é comum em região desértica, estava bem frio, o que foi intensificado quando saímos da cidade, com menos de um quilômetro, para pegar a rodovia 23-CH, pois o vento ajudava a piorar a sensação. Ela só melhorou quando o sol se firmou, e o clima se manteve agradável ao longo de toda a prova.
Corre-se a primeira parte na rodovia, sendo que aproximadamente no km 6 a turma dos 23 km entra à direita para o Vale da Morte e encara sua primeira grande subida, enquanto os maratonistas, como eu, continuam na estrada, em percurso plano, até o km 9, quando começam os sobe e desce e o ritmo cai um pouco. Aliás, a recomendação em provas deste tipo é segurar o ritmo nos dois terços iniciais, para não pagar pela ousadia no final. Assim, procurei dosar o esforço, embora tenha coberto os 10 km iniciais um pouco forte, e a cada trecho de piso fofo, como areia, ou subida íngreme, eu já me punha a andar, poupando energia para compensar nos trechos planos e de descida.
O segundo trecho de 10 km ocorre no Vale da Lua, em percurso de média dificuldade, entre pequenos cânions, pedras pontiagudas e dunas, o que exigiu atenção para desviar delas e grande esforço muscular na parte das dunas arenosas. Depois dessa parte, retorna-se pela estrada, em percurso relativamente plano, até o ponto onde o pessoal dos 23 km entrava no Vale da Morte, que é quando, então, o corpo será realmente exigido.
NO VALE DA MORTE – Entramos no Vale da Morte no km 24. Este é o trecho mais duro, com muitas subidas e encostas íngremes. São duas subidas principais (entre outras intermediárias): a primeira, no km 26, com ascensão de 80 m em apenas 1 km, e depois a "grande duna", onde se vencem 90 m de altura em uma distância de apenas 600m e, depois de mais alguns sobe e desce, alcançam-se 2.624 m. Isto é no km 33,5, a maior altimetria da prova, quando a musculatura das pernas está bem cansada, os pés cheios de areia e os tornozelos doloridos.
Eu já começava a sentir leves câimbras nos quadríceps, que persistiram até o final da prova, exigindo que eu parasse duas vezes para alongar. Além disso, a quantidade de areia que entrou nos meus tênis piorava tudo, pois ela se acumulava na ponta dos pés e pressionava os dedos, em especial nas descidas, deixando a sensação de que os tênis eram dois números a menos do que deveriam…
Depois do pico no km 33,5, o percurso ficou predominantemente em descida e aproveitei para forçar o ritmo e compensar o tempo perdido nos trechos mais lentos. Apesar das dores, evitei parar ou andar e procurei imprimir um ritmo confortável até o final, gerenciando o consumo de água e os suplementos, que cumpri de forma mais fiel possível ao proposto pela minha nutricionista, evitando o que fosse oferecido na prova que fugisse ao que eu havia testado nos treinos (aproveito para mencionar o excelente suporte no percurso, principalmente de água).
E assim, aos trancos e barrancos, quando entrei na cidade para a parte final, faltavam pouco mais de 2 km, que pareciam o dobro, devido ao esforço necessário para completá-los. Ao mesmo tempo era revigorante devido ao apoio das pessoas no caminho, gritando e falando meu nome – como é útil no número de peito! Quando faltavam 200 m, a gritaria aumentou de verdade, com o narrador empolgado e os amigos também chamando pelo meu nome, o que me deu forças para um sprint final. Concluí em 5h12, o que resultou no 3º lugar na faixa etária (sub-35), 12º lugar no geral feminino, e a felicidade imensa de levar um troféu do Mountain Do para casa, meu primeiro em maratonas – e que maratona!
Karine Parússolo é assinante de São Paulo.