Notícias admin 10 de março de 2015 (0) (134)

42 km no Deserto do Atacama

Dia 17 de março, em San Pedro de Atacama, no Chile, exatamente às 7h35, foi dada a largada para a 2ª edição do Mountain Do Deserto do Atacama, nas distâncias de 23 e 42 km. A largada dos 6 km aconteceu 5 minutos depois. O percurso da maratona, do qual eu participaria, havia sofrido algumas alterações devido a fenômenos climáticos (a que provas desse tipo estão sujeitas) e, com isso, estaria mais difícil, segundo a organização. Mas isso não mudaria muito o fato mais importante: a brincadeira se desenrolaria acima de 2.400 m de altitude!
No horário da largada, como é comum em região desértica, estava bem frio, o que foi intensificado quando saímos da cidade, com menos de um quilômetro, para pegar a rodovia 23-CH, pois o vento ajudava a piorar a sensação. Ela só melhorou quando o sol se firmou, e o clima se manteve agradável ao longo de toda a prova.
Corre-se a primeira parte na rodovia, sendo que aproximadamente no km 6 a turma dos 23 km entra à direita para o Vale da Morte e encara sua primeira grande subida, enquanto os maratonistas, como eu, continuam na estrada, em percurso plano, até o km 9, quando começam os sobe e desce e o ritmo cai um pouco. Aliás, a recomendação em provas deste tipo é segurar o ritmo nos dois terços iniciais, para não pagar pela ousadia no final. Assim, procurei dosar o esforço, embora tenha coberto os 10 km iniciais um pouco forte, e a cada trecho de piso fofo, como areia, ou subida íngreme, eu já me punha a andar, poupando energia para compensar nos trechos planos e de descida.
O segundo trecho de 10 km ocorre no Vale da Lua, em percurso de média dificuldade, entre pequenos cânions, pedras pontiagudas e dunas, o que exigiu atenção para desviar delas e grande esforço muscular na parte das dunas arenosas. Depois dessa parte, retorna-se pela estrada, em percurso relativamente plano, até o ponto onde o pessoal dos 23 km entrava no Vale da Morte, que é quando, então, o corpo será realmente exigido.

NO VALE DA MORTE – Entramos no Vale da Morte no km 24. Este é o trecho mais duro, com muitas subidas e encostas íngremes. São duas subidas principais (entre outras intermediárias): a primeira, no km 26, com ascensão de 80 m em apenas 1 km, e depois a "grande duna", onde se vencem 90 m de altura em uma distância de apenas 600m e, depois de mais alguns sobe e desce, alcançam-se 2.624 m. Isto é no km 33,5, a maior altimetria da prova, quando a musculatura das pernas está bem cansada, os pés cheios de areia e os tornozelos doloridos.
Eu já começava a sentir leves câimbras nos quadríceps, que persistiram até o final da prova, exigindo que eu parasse duas vezes para alongar. Além disso, a quantidade de areia que entrou nos meus tênis piorava tudo, pois ela se acumulava na ponta dos pés e pressionava os dedos, em especial nas descidas, deixando a sensação de que os tênis eram dois números a menos do que deveriam…
Depois do pico no km 33,5, o percurso ficou predominantemente em descida e aproveitei para forçar o ritmo e compensar o tempo perdido nos trechos mais lentos. Apesar das dores, evitei parar ou andar e procurei imprimir um ritmo confortável até o final, gerenciando o consumo de água e os suplementos, que cumpri de forma mais fiel possível ao proposto pela minha nutricionista, evitando o que fosse oferecido na prova que fugisse ao que eu havia testado nos treinos (aproveito para mencionar o excelente suporte no percurso, principalmente de água).
E assim, aos trancos e barrancos, quando entrei na cidade para a parte final, faltavam pouco mais de 2 km, que pareciam o dobro, devido ao esforço necessário para completá-los. Ao mesmo tempo era revigorante devido ao apoio das pessoas no caminho, gritando e falando meu nome – como é útil no número de peito! Quando faltavam 200 m, a gritaria aumentou de verdade, com o narrador empolgado e os amigos também chamando pelo meu nome, o que me deu forças para um sprint final. Concluí em 5h12, o que resultou no 3º lugar na faixa etária (sub-35), 12º lugar no geral feminino, e a felicidade imensa de levar um troféu do Mountain Do para casa, meu primeiro em maratonas – e que maratona!
Karine Parússolo é assinante de São Paulo.

Veja também

Leave a comment