O feito de Haile era esperado há algum tempo, dado seu currículo de recordes mundiais, nos 5 e 10 mil metros, grandes marcas em meias e os tempos mais rápidos em maratona em 2005 (2:06:20 em Amsterdã) e em 2006 (2:05:56 em Berlim). Neste ano ele novamente tentou o recorde, em Londres, dia 22 de abril, mas nem chegou a completar.
O atleta já tinha dado várias declarações em que afirmava ter como meta principal ser o novo recordista mundial de maratona e que se considerava em condições de alcançar esse feito. Após Londres, ele focou seus treinos para Berlim, participando de poucas provas, como parte de sua preparação. Assim foi com a Meia de Nova York (dia 5/8), que Haile venceu no excelente tempo de 59:24.
Em Berlim, da mesma forma que acontece em todas as maratonas importantes, os ponteiros tiveram a ajuda de "coelhos", correndo na frente para ditar o ritmo e quebrar o vento. Eles trabalharam para Haile até o km 30, deixando os 12 km finais por conta do atleta etíope, que conseguiu não cair de ritmo (sempre pouco abaixo de 3 minutos por km!), mesmo correndo sozinho, e foi para o recorde. Ele conseguiu até ser um pouco mais rápido na segunda metade da prova, já que tinha passado a meia em 1:02:29.
A situação foi semelhante ao ocorrido em Berlim 2006, até Haile ficar isolado, pois no ano passado ele não conseguiu manter o ritmo, em função principalmente de vento contra, o que não aconteceu agora. As condições climáticas foram ótimas, com temperatura variando de 14 a 18 graus, com sol, sem vento, e portanto muita gente nas ruas aplaudindo, fato que sempre estimula os corredores, mesmo os de elite. O segundo colocado, o queniano Abel Kirui, consegui sua melhor marca (2:06:51) e uma das mais rápidas do ano, vindo depois o também queniano Salim Kipsanga em 2:07:29.
Ao telefone com Tergat. Logo após cruzar a linha de chegada, o diretor da prova, Mark Milde, passou seu telefone para Haile. Era Paul Tergat querendo parabenizá-lo; o atleta etíope, muito simpático como sempre, comentou que considerava Tergat um grande amigo, e que tinha se desculpado por lhe ter tirado o recorde mundial.
Pela vitória e recorde, Geb (como é chamado) recebeu um prêmio de 130 mil euros (R$ 338 mil), sem contar outros benefícios, especialmente do seu patrocinador de muitos anos, a Adidas. Agora ele irá se preparar para uma maratona muito especial, a de Dubai, em janeiro, que oferecerá a maior premiação já dada para campeões nessa competição: US$ 250 mil (quase R$ 500 mil)!
Mas como ele já falou em inúmeras entrevistas, seu primeiro sonho era o recorde mundial e agora conseguido ele irá se preparar para tentar a medalha de ouro olímpica em Pequim, talvez fechando sua carreira, aos 35 anos. Mas como ele anunciou que se considera em condições de correr uma maratona em 2h03, então talvez ele vá em busca dessa marca ainda em 2009, e em Berlim, onde ele acha que são melhores as condições para resultados rápidos, pelo percurso plano, poucas curvas, temperatura perfeita e muito público estimulando, sem contar as 70 bandas pelo percurso.
Etíope também na feminina. Assim como Haile, a etíope Gete Wami correu Berlim tentando o bicampeonato, e conseguiu. Ela, que é vizinha de Haile em Adis Abeba, venceu em 2:23:17 (2:21:34 em 2006, recorde etíope), confirmando as expectativas. A surpresa foi a segunda colocada, Irina Mikitenko, que marcou 2:24:51, a mais rápida estréia de uma alemã na distância e o terceiro melhor resultado do país, depois de Uta Pipig (2:21:45) e Katrin Dörre-Heinig (2:24:35).
Com a vitória, Wami passou a liderar o ranking da World Marathon Majors (liga que reúne as cinco grandes maratonas – Nova York, Chicago, Boston, Londres e Berlim) e para garantir sua posição ela já confirmou que estará correndo em Nova York. Está em jogo um prêmio de US$ 500 mil!
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