Perto de 20 mil corredores se alinharam no Central Park para a largada da Meia-Maratona de Nova York, que aconteceu no dia 15 de março. A prova, que teve 19.455 concluintes, sendo 9.305 homens e 10.150 mulheres, reuniu cerca de 2.200 voluntários e uma grande quantidade de espectadores ao longo do trajeto, que percorre as ruas de Manhattan.
A Meia em Nova York, que completou 10 anos, tem a tradição de ser bem disputada, atraindo grandes nomes do atletismo, que utilizam a corrida como uma apronto para as maratonas que acontecem nos meses de abril. Embora este ano a competição não reunisse estrelas do calibre do britânico Mo Farah e dos quenianos Wilson Kipsang, Geofrey Muttai e companhia, havia outros grandes nomes com potencial para render uma boa disputa, como os quenianos Stephen Sambu, 3º na edição 2014, e Wesley Korir, campeão de Boston em 2012, e ainda os norte-americanos Meb Keflezighi, atual campeão da Boston, Dathan Ritzenhein, medalhista de bronze no Mundial de Meia em 2009 e atleta com o melhor tempo de meia entre as estrelas, com 1 hora cravada.
No feminino, destaque para duas antigas campeãs, que voltavam a Nova York para tentar mais um triunfo: as quenianas Sally Kipyego, vencedora no ano passado e recordista da prova, com 1:08:31, e Caroline Rotich, bicampeã da disputa, em 2011 e 2013.
Mas o que se viu em Nova York foi o sucesso dos não favoritos. Entre os homens, quem levou a melhor foi o queniano Leonard Korir, que tinha como melhor resultado na prova uma 4ª colocação obtida em 2013 e 1:01:19 como recorde pessoal para os 21 km. O queniano definiu a vitória no finalzinho, quando deixou o parceiro de treino e compatriota Stephen Sambu para trás ao cruzar a linha de chegada com 1:01:06, apenas 1 segundo à frente do amigo. Na 3ª posição ficou o mexicano Juan Luis Barrios, com o tempo de 1:01:14.
Na competição feminina, vimos pela primeira vez uma largada separada entre homens e mulheres, com 12 minutos de diferença. Para alegria dos donos da casa, a atual recordista norte-americana dos 5.000 metros, Molly Huddle, não deixou escapar a vitória e se tornou a primeira americana a vencer a Meia de Nova York em 10 anos de edição (no masculino isso ainda não aconteceu).
Molly correu com maestria e não deixou escapar a vitória este ano, como aconteceu no ano passado, quando figurava entre as líderes e acabou ficando no quilômetro final, tendo que amargar uma 3ª colocação na sua estreia na distância. Neste ano, faltando 1 km para o final, a americana apertou o passo em cima da queniana Joyce Chepkirui, que carregava na bagagem o segundo melhor tempo da distância em 2014, para vencer e conseguir seu recorde pessoal na distância e ainda igualar o recorde do percurso, com 1:08:31. Chepkirui ficou com a 2ª colocação, com 1:08:42, seguida de Sally Kipyego, com 1:09:39.
TRÊS ONDAS. Terminada a disputa da elite, as atenções todas ficaram voltadas aos atletas amadores, que fizeram a festa nas ruas de Manhathan. A largada aconteceu em três ondas, com a primeira saída acontecendo às 7h30 e a última às 8h10. O frio característico de início de primavera nessa época do ano é sempre um desafio a mais aos participantes. Apesar da baixa temperatura, houve quem comemorasse a média de 5 graus deste ano quando comparada às temperaturas negativas registradas nas semanas anteriores, e no ano passado, quando no momento da largada a sensação térmica era de menos 10 graus.
Apesar da baixa temperatura, quem opta pela Meia de Nova York tenta esquecer o frio e lembrar que o grande charme da prova é o fato de o trajeto ser todo ele disputado em Manhattan. A largada acontece no Central Park, onde os corredores dão uma volta quase completa no sentido anti-horário, com direito a muito sobe e desce, mas nada que comprometa muito o ritmo de corrida. Após a metade do percurso, o trajeto segue para a parte mais emocionante da prova, quando deixa o Central Park pela descida da Sétima Avenida, passando na marca dos 10 km pelo Times Square, onde é maior a presença de público. A partir de então, o trajeto vira à direita na rua 42 e desce até a Baixa Manhattan pelo avenida que margeia o Rio Hudson, atingindo o Battery Park e tendo como cenário o One World Trade Center, edifício principal do novo complexo do WTC, construído após o ataque de 11 de setembro de 2001. A chegada é na South Street Seaport.
Com tantos atrativos, aos amantes de meia e também aqueles que querem estrear nos 21 km com grande estilo, fica difícil não colocar Nova York na lista de provas favoritas.
ESTREIA E DE VOLTA. A paulista Marcia Magalhães, de São José dos Campos, não teve dúvidas ao escolher Nova York para correr seus primeiros 21 km. E o motivo principal era celebrar o final de um tratamento de radioterapia, para tratar um câncer de tireóide. "Hoje faz dois anos que terminei minha última sessão e saí da área de risco", comemora Marcia, que arrastou junto com ela para a Big Apple a amiga Luciana Martins, que estava mais propensa a correr Paris, uma semana antes. "Estudamos juntas em Itajubá e mesmo morando em locais distantes hoje, treinamos com a mesma assessoria."
Luciana, que é de Manaus e mora hoje em Brasília, diz que a entrada na Times Square é algo contagiante. "A organização é perfeita. Todo o percurso tem gente animando, mas esse ponto é fora de série", lembra a corredora, que finalizou a prova em 2h26, feliz por poder celebrar uma data tão especial com a amiga.
Onivaldo José Squizzato, de Limeira, SP, já havia feito a prova no ano passado. "Quis estar aqui novamente porque Nova York é Nova York. Tanto é que já estou inscrito na maratona, que acontece em novembro", conta Ronivaldo, que também faz questão de salientar a descida da Sétima Avenida, já na metade do percurso, como o ponto alto da pronta. "Aquilo é eletrizante. Tem muita gente ali. Quando você vira na rua 42 para correr beirando o rio também é fantástico. E, quando está chegando no final e vê a nova torre do World Trade Center, dá um arrepio."
O corredor também convenceu o amigo Wilson Aparecido de Oliveira, da mesma cidade, a estrear na distância. "Eu corro há 10 anos, mas prefiro sempre provas de 10 km. Nunca havia corrido 21 km, mas aceitei o convite, ainda mais porque correria em Manhattan", diz Wilson, que terminou em 2h08. "Foi melhor do que eu esperava. Larguei na onda 3 e já consegui correr no ritmo desde o início. Achei a prova fantástica!"
Mesmo treinando na quente cidade de Parnaíba, no Piauí, Flavio Tajra Melo não se importou em desafiar seus primeiros 21 km num local em que a temperatura é completamente oposta ao que está acostumado. "A cidade é linda e não havia lugar melhor para completar esse desafio. O percurso é lindo e as pessoas apoiam com cartazes. Esperei bastante para largar no Central Park; cheguei às 6h e larguei somente na terceira onda às 8h10, mas foi bom para descontrair com outros corredores e já entrar no clima", afirma Flavio, que pretendia terminar em 2h30, mas conseguiu cruzar a linha de chegada com 2h15.
Marcela Veiros mora em Florianópolis, mas como estava em Nova York com o marido, Cincinato Cordeiro, devido a um pós-doutorado, aproveitou para participar da prova. "Moramos a 30 km daqui e estranhamos o clima quando chegamos, já que pegamos muito frio, não dando para treinar como queríamos", explica Marcela, que completou em 2h26 junto com o marido. "Achei a parte do Central Park, cheio de subidas, mais difícil. Mas já sabíamos disso por orientações na hora de pegar o kit. Na segunda metade foi bem mais tranquilo."
Outra corredora que foi atraída pela beleza de Nova York foi a paulistana Karina Arissa, que, mesmo com o frio e o sobe-desce do Central Park, conseguiu bater seu recorde pessoal nos 21 km, finalizando em 2h23. "Encontrei uma prova dura, com percurso em parte desafiador e com muito frio e vento, mas com uma organização impecável, suporte incrível e a melhor largada que já participei. Você consegue impor seu ritmo de cara", diz Karina, complementando que nada se compara a passar pela Times Square com toda aquela torcida. Essa sensação é com certeza apenas um aperitivo do que ela verá pela frente em novembro, uma vez que já garantiu sua volta a Nova York, dessa vez para encarar os 42 km, dia 1º de novembro.