Blog do Corredor Perfil Redação 4 de outubro de 2011 (3) (149)

100 maratonas no currículo. Todas a sério.

Corredores com 100 ou mais maratonas nas costas são com certeza milhares pelo mundo e talvez mais de uma centena no Brasil, mas o que diferencia Luiz Celso de Medeiros é que ele faz todas seriamente. Correr só para completar não é com ele. A 100ª foi a Maratona do Rio, em julho último, com 3h08, 1º da faixa etária; já a estréia foi em Blumenau 1991, em 3h06, um ano depois de se iniciar na corrida.

Nesses 21 anos competindo, o retrospecto é excelente: a maioria, sub 3h. O recorde pessoal foi obtido em Berlim, em 1998: 2:42:05. O técnico Márcio Puga, do Rio de Janeiro, define bem o amigo corredor. "O Medeiros fez as 100 maratonas com qualidade. Até hoje, ele só entra para fazer tempo, o melhor possível. Conheço algumas pessoas que também já passaram desse número, mas não se preocupam com o resultado, só em terminar", diz.

"Sempre fiz isso: entrar na prova para correr num bom ritmo, se possível ficar entre os cinco primeiros na categoria, para subir ao pódio", afirma Medeiros, procurador de Justiça do Ministério Público do Paraná. Atualmente, sua média é de três maratonas por ano, mas já teve temporada que correu mais. Ele comemora a saúde excepcional, mas, devido ao grande esforço, chega sempre desgastado ao final das provas. Uma consequência do desempenho. "Em menos de três semanas (pós-maratona), não me recupero", conta. Panturrilha e tendões são sempre os mais exigidos. A exceção aconteceu neste ano. Uma semana após sua 100ª maratona, correu a Meia de Blumenau para analisar suas condições físicas, fechando os 21 km em 1:27:57.

Agora, Medeiros garante que, mesmo só entrando em uma maratona para dar o melhor, fazer tempo, o atleta precisa completá-la comemorando. "O ritmo é forte, mas tem de chegar ao final sempre sorrido, festejando. Tem de ser sempre assim. Às vezes, perco alguns segundos (no tempo final) fazendo ziguezague com a torcida", diz.

 

UM SOBREVIVENTE. Medeiros brinca ser um sobrevivente. Muitos dos companheiros que corriam com ele há 15 anos ou não estão mais nas provas ou tiveram uma queda de rendimento. Ele sabe que, ano após ano, a idade pesa. Ao mesmo tempo, a vontade de treinar segue a mesma. Tanto que já traçou uma meta para cumprir em 2012 (neste ano, diz, ainda não será possível): ser um sexagenário sub 3h. O resultado, provavelmente, será buscado em Porto Alegre, prova que conhece como poucos após 19 participações seguidas (perdeu a de 2011, devido à lesão).

O corredor faz questão de salientar a importância do técnico Márcio Puga ao longo dos tempos. "Parceria com o treinador é fundamental. Ele atesta o treinamento, confere o rendimento nas provas", diz. Hoje, após a lesão, Medeiros está um pouco cauteloso. Isso não quer dizer alívio nos treinos. Sua preparação para uma maratona inclui, semanalmente, pelo menos um treino de velocidade na pista, um de morro ("subir montanhas é melhor do que musculação; fortalece coxa e panturrilha") e um longão no final de semana. Não repete dois dias seguidos o mesmo treino. Folga? Não faz parte de seu vocabulário. Lembra que, no auge, descansava apenas um dia a cada duas semanas. E olhe lá. "Para maratona, tem de treinar todo dia", receita.

Os treinos de velocidade dão os parâmetros para o dia da maratona. Medeiros faz os tiros, independentemente das distâncias, em ritmo fortíssimo. "Se corro a 3:33 por km nos tiros, sei que para fazer a maratona a 3:50 por km, como em Berlim, tenho uma folga. Na verdade, nesse ritmo na maratona estou me preservando. Então, vou forte nos treinos de velocidade e nas provas curtas", afirma. Medeiros, porém, dá uma dica importante para quem busca melhorar os tempos: "Saber se preservar e não ir no limite."

 

A MARATONA EM 3 PARTES. As maratonas são divididas em três partes: 14-28-42 km. Primeiro, sente a prova e aquece. Depois, faz um ritmo quase que constante até o km 28. A partir daí, como se conhece bem, procura ir baixando os tempos, quilômetro por quilômetro. "De 3:53 para 3:45 por km, por exemplo", afirma. Mas não pense que essa redução é drástica. "De segundo em segundo por quilômetro. Não podemos dar uma arrancada de ‘pneu'", completa, sorrindo. Tanto que, quando corria os 10 km fortes, aquecia muito antes e chegava na largada já suado. Dessa forma, tem como recorde 35:52 na distância. Na meia-maratona, seu melhor é 1:16:05. "Meu objetivo sempre foi a maratona".

Além disso, defende um planejamento perfeito para a disputa da maratona. Dá importância total para a alimentação, viagem, descanso, para a hora de dormir na véspera. Organiza tudo sempre para ter uma folga de tempo. "Sem desgaste psicológico. Tranquilo e concentrado, com confiança e foco", completa. E garante: "Barreira é para quem não se preparou. Se treinou direito, maratona é festa, a consagração."

 

A EVOLUÇÃO, AOS POUCOS. Casado, cinco filhos (um deles ciclista, vivendo no exterior) e dois netos, Medeiros conta que sua melhora nos tempos foi prova após prova. Foram sete anos para o organismo se adaptar aos treinos e chegar ao recorde pessoal em Berlim. A primeira sub 3h foi na Rio-Eco em 1992, na capital carioca: 2:59:45. "A partir daí, foi tudo natural. Fiz muitas maratonas em 2h49, São Paulo, Blumenau, Porto Alegre. Então, 2h47, 2h45, chegando tranquilo, inteiro. Uma sequência de 2h45 e 2h43 em Porto Alegre." Medeiros lembra, inclusive, do alto nível técnico das maratonas brasileiras no passado. Aos 46 anos, com 2h47 em Blumenau, foi o 11º na categoria.

É claro que nessas 100 maratonas, Medeiros teve de conviver, muitas vezes, com resultados não esperados. Fez ótimos tempos, mas sabia que poderia ir ainda melhor… "Lembro de uma vez, em Porto Alegre, quando corria para um grande resultado, mas senti câibras fortíssimas no km 41. Ou outra vez em São Paulo, quando nada deu certo. Calor, poluição… desisti de um ritmo forte para chegar com bem-estar", afirma.

Em 2000, estava muito bem preparado e foi correr em Porto Alegre, em maio, para baixar seu tempo. "Mas me descuidei na véspera. No jantar, com música, fui dormir tarde. Ente os km 20 e 22 começaram cólicas muito fortes, insuportáveis no km 30. Fui obrigado a parar para me aliviar, e meio zonzo, cambaleando, continuei. Ainda com cólica e desconforto, fechei em 2h45. Se estivesse bem…", recorda. Em junho desse ano, decidiu correr também em São Paulo. "Senti uma agulhada na panturrilha, mas fui até o final. Não devia, pois tive que desistir de Blumenau, onde esperava alcançar novo recorde pessoal", lamenta Medeiros.

 

ESTRATÉGIA É FUNDAMENTAL. O corredor recorda de outra prova em 2001, para destacar que na maratona é preciso montar uma estratégia, ser calculista. Correria com um colega cerca de um minuto mais rápido, ritmado de ponta a ponta. Durante o percurso, Medeiros ia acompanhando o amigo à pequena distância, como referência. "Percebi, então, que a vegetação deitava (por causa do vento). Pensei: quando o vento estiver contra, seguro; a favor, forço, um verdadeiro fartlek. Em uma maratona, o principal, depois do treinamento, é a estratégia no dia. No retão final, enxerguei o colega no km 39, mas como sou bom de chegada por causa dos treinos em pista, forcei o ritmo e acabei o ultrapassando pouco antes do final", recorda Medeiros, que fechou em 2h46 baixo, enquanto o amigo bateu seu recorde pessoal, com 2h46 alto.

A Maratona do Rio de Janeiro foi a primeira de 2011. Após um mês e uma semana de preparação. Antes, estava com dor nos dois tendões de Aquiles e na panturrilha. "Corri a Maratona de Curitiba no ano passado e depois fui para uma meia para subir no pódio, disputar a vitória na categoria", conta. "Machuquei a panturrilha. Quem erra, paga o pedágio. Lá na frente, vai pagar pelo erro que cometeu", diz. Todo começo do ano, Medeiros tira férias, principalmente até o final de fevereiro. Assim, estreou nas provas neste ano na Meia de Florianópolis, em maio, com um treinamento muito curto. Sofreu um estiramento. "Perdi, por isso, a Maratona de Porto Alegre, após 19 anos consecutivos", lamenta. Dessa forma, para o Rio, o trabalho partiu quase do zero.

Medeiros diz que não recomenda essa preparação rápida para ninguém. A vantagem é que, com 21 anos de corrida em ritmo competitivo, conhece muito bem o corpo, sabe entender a dor. Em caso de necessidade, sempre busca uma segunda orientação médica. Questiona o diagnóstico. Dessa forma, vai somando pódios. "Estou sempre entre os primeiros no ranking anual de maratonistas da Contra-Relógio."

 

COM O TÉCNICO MÁRCIO PUGA, UMA LONGA PARCERIA

Luiz Celso de Medeiros é assinante da Contra-Relógio "desde a primeira hora e um divulgador", com faz questão de destacar. O corredor de Curitiba tem uma parceria de muitos anos com o técnico Márcio Puga, do Rio de Janeiro. Diz, inclusive, que seu sucesso nas ruas deve-se em muito ao trabalho do treinador. A relação começou sete anos após a estreia nas corridas de rua, já com várias maratonas, inclusive no pódio (na classificação por faixa etária – 40/44 anos e 45/49 anos).

O treinamento é à distância. Segundo o corredor, nesse método é essencial o conhecimento mútuo, a confiança total, o comprometimento e a sinceridade na conversa. "Deve haver uma perfeita sintonia", afirma. "Conheci o Márcio quando fui participar da Maratona Rio-Eco 92, levado por amigos comuns aqui de Curitiba. Nessa maratona, tive oportunidade de correr os primeiros 21 km (isto é, até onde me foi possível) ao lado dele. Durante todo o tempo, ele passava orientação aos seus pupilos.

A relação entre os dois começou em 1998, "passando-me semanalmente treinos via fax (naquela época era o meio mais prático disponível). Começaram então meus treinos à distância. Tinha eu ambiciosos objetivos, sendo o mais importante baixar meu tempo em maratona. E consegui já no primeiro ano ao fazer 2:42:05 em Berlim, na mesma ocasião em que o Ronaldo da Costa quebrava o recorde mundial", recorda Medeiros.

Veja também

3 Comments on “100 maratonas no currículo. Todas a sério.

  1. ola,celso! li sua materia amigao,fiquei feliz p essas fasanhas nas corridas. qd vc comecou eu parei o tp q vc tem correndo hoje, eu tenho q parei.mas gracas a deus a cordei! voltei este ano,tem 6 meses q estou treinando pretendo n parar mais!so q estou voltado p as corridas de montanhas,e muito bom! n sei se vc ja correu,mas eu corro qd posso 10,15e21km,estou me destacando aos poucos n tenho tabela de treinos,vou na intuicao,p horas,faco aluns treinos de morro,so n consigo fazer um bom treino de base, dar tiros,como vc faz!..p melhorar.tenho muita vontade de correr fora.ja corri em blumenaus,em 86,mas tv q pararjustamente pq n me comportei,n tive descanco,e ja parti p um crooss,dai foi q vi a parar de corre! mas tudo q vc falou tem grande sentido,e justamente desse jeito!e uma fisgada e outra repuxada..e dai por diante e o descanso ,p coservaro corpo!.tenho 56, e qr chegar perto de sua meta. se deus quizer!.. abrcs boa sorte,e parabens,pelo seu bonito esforfo!.. fica c deus e tudo de bom!,,wilson de carapicuiba sp

  2. Medeiros é terrível, só entra para ganhar. Admiro sua tenacidade e seus belíssimos resultados. É um modelo a ser seguido. Tive a oportunidade de vê-lo na Maratona do Rio, ano passado. Apesar de na véspera fragá-lo tomando apenas café-com-leite e misto quente às 8 da noite do sábado na padaria da Senador Vergueiro, pertinho do Argentina Hotel, no dia seguinte chegou matando, concluindo mais uma em apenas 3 horas. Medeiros não é brincadeira : fala devagar e corre muito! Parabéns, Medeiros, pela brilhante trajetória.

Leave a comment